17 set Reservas Extrativistas do Marajó iniciam elaboração de Planos de Negócio para fortalecer as cadeias de valor do açaí e da madeira
Quanto custa produzir madeira e açaí em Unidades de Conservação de Uso Sustentável na Amazônia? A pergunta norteou as atividades realizadas pelo Instituto Floresta Tropica (IFT), por meio de consultoria desenvolvida pela Verde Consultoria Ambiental, em três Reservas Extrativistas (Resex) localizadas no arquipélago do Marajó e áreas de influência: Mapuá, em Breves, Terra-Grande Pracuúba, em Curralinho e São Sebastião da Boa Vista, e Arióca Pruanã, em Oeiras do Pará.
Somadas as participações por atividade, as oficinas de construção compartilhada do Plano de Negócios reuniram mais de 500 pessoas entre homens, mulheres e jovens. A ação ocorreu do dia 25 de agosto ao dia 09 de setembro e utilizou metodologias participativas para levantar informações e fomentar reflexões sobre as cadeias de valor florestal. A atividade compõe a agenda de ações do projeto Florestas Comunitárias, desenvolvido em parceria com o Fundo Amazônia, cujo objetivo é implementar o manejo florestal comunitário nas UCs, especificamente em dois produtos: madeira e açaí.
“Nesse primeiro momento a proposta é dialogar com a comunidade e acolher informações sobre a relação entre produtores, mercado e produto. Assim, poderemos analisar os melhores cenários para efetivação da cadeia produtiva da madeira e açaí na região a partir do olhar dos próprios agroextrativistas”, explica o economista Roberto Sartori, da Verde Assessoria.
De acordo com Ana Carolina C. Vieira, engenheira florestal coordenadora do Programa Florestas Comunitárias, as oficinas foram a primeira etapa da construção do plano de negócios – documento que apresenta as estratégias para o desenvolvimento da cadeia dos produtos, assim como elementos para inserção no mercado, projeção de receitas, despesas e resultados financeiros esperados, a fim de nortear as tomadas de decisões para o melhor resultado do negócio. “O objetivo da atividade era entender as demandas das comunidades, o potencial produtivo, a dinâmica do mercado local, e principalmente os passos necessários para a estruturação da cadeia de valor do açaí e madeira como negócio sustentável”, argumenta Ana Carolina.
Ambiente colaborativo
O cuidado com o método de intervenção na realidade local deu o tom às oficinas. Os participantes eram estimulados a dialogar livremente em relação a própria realidade e assim produzir informações transparentes sobre a forma como lidam com os recursos naturais nas unidades de conservação de uso sustentável. “Se por um lado nos colocávamos como aprendizes sobre as especificidades do território, por outro utilizávamos a bagagem técnica para proporcionar um ambiente colaborativo. Por isso cada atividade da programação foi organizada para que eles produzissem as informações e tomassem decisões sobre futuras alocações de recursos”, comenta Bruno Simionato Castro, engenheiro florestal da Verde Consultoria.
De acordo com Helena Gonçalves, especialista em gestão ambiental, a atividade estimulou o raciocínio crítico dos participantes sobre as atividades produtivas que realizam, desta forma eles puderam vivenciar um olhar mais voltado para o ambiente de negócios. “O atual nível de organização dos comunitários já permite que seus produtos sejam comercializados, ou seja, já se trata de um negócio. Porém, ainda não se atribui a estes produtos suas peculiaridades, como o valor do saber tradicional, cultural e a qualidade dos produtos. Através da identificação das principais fragilidades e potenciais de seu negócio comunitário, os participantes poderão se organizar melhor para atuar de forma mais justa e valorizada nesses mercados”, afirma.
Para Rita Freitas, liderança na comunidade Santa Rita, localizada na Resex Mapuá, a madeira e o açaí são os principais produtos da cesta de comercialização que sai da Resex e são ofertados na região. Segundo ela, ao entender quanto custa cada etapa do processo, desde a retirada até a venda ao consumidor, é possível melhorar a oferta e exigir um preço justo dos compradores. “Hoje não é dessa maneira que funciona. São eles (compradores) que ditam os valores. Isso não é certo. Quem sabe quanto custa desenvolver cada atividade somos nós, os produtores. Nós vamos poder utilizar as informações do plano para entender melhor o que fazemos e saber quanto vale nosso suor”, diz.
O Plano de Negócio será elaborado a partir do uso de metodologia participativa que considera como premissa a valorização dos diferentes saberes, empírico e científico, e uso da crítica social para compreender a complexidade da cadeia de valor dos produtos sob a perspectiva comunitária. As informações coletadas nesta fase serão analisadas por um time de profissionais que atuam com foco em economia florestal. Os dados retornarão às comunidades em uma segunda etapa da construção do plano de negócios, desta vez voltada para a validação da análise junto aos produtores agroextrativistas.
Paralelamente às oficinas comunitárias, outra equipe percorreu quatro municípios com influência direta na comercialização dos produtos florestais. Nas localidades foram realizadas pesquisas de mercado com atores-chave no desenvolvimento das cadeias de valor. Entre os entrevistados, estiveram empresários do setor florestal e do açaí, agentes de assistência técnica e extensão rural, agentes de governo, atravessadores e outros. As informações levantadas complementam a visão macro da cadeia de valor para elaboração do Plano e em especial identifica oportunidades de mercado e negócios para o fortalecimento das relações comerciais nas Unidades de Conservação.
Em números
203 produtores agroextrativistas participaram da oficina sobre a madeira
305 produtores agroextrativistas participaram da oficina sobre o açaí
7 polos comunitários receberam as oficinas
3 Reservas Extrativistas compõem o escopo do projeto Florestas Comunitárias
Sem Comentários