28 jul Mapeamento participativo pretende identificar viabilidade econômica da cadeia do açaí na Resex Verde Para Sempre
“Tens o dom de seres muito, onde muitos não têm nada”. O trecho é da letra da canção Sabor Açaí, do artista paraense Nilson Chaves, e revela em verso e prosa a relação do povo amazônico com a fruta típica da região norte do país. Consumido de leste à oeste no Pará – em muitos casos o açaí é um dos principais complementos da alimentação – a polpa encontra mercado e potencial de comercialização nas mais diferentes localidades.
Diante desse cenário e na tentativa de contribuir com a diversificação das atividades produtivas de comunidades da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre, o Instituto Floresta Tropical (IFT) desenvolve, em parceria com a comunidade Itapéua e Alvo Verde Soluções e Projetos, o mapeamento participativo da cadeia do açaí na região. Com o apoio do Fundo Vale, a primeira etapa desta atividade foi realizada entre 16 e 19 de julho e contou com a consultoria de um economista e um administrador. Com as informações adquiridas será elaborado um estudo de viabilidade econômica e um plano de negócios para a comunidade Itapéua.
A Resex Verde para Sempre está localizada no município de Porto de Moz e possui áreas de açaizais nativos com potencial para serem manejados e gerar alimentação e renda para a população que habita o território. “Temos interesse em trabalhar com o açaí e estamos sendo capacitados para isso. Até então a gente só usava para consumo próprio e nem era sempre. A floresta pode nos dar muita coisa, está tudo aí é só termos o conhecimento para usar”, disse Gideão Félix Aragão, morador da comunidade Itapéua.
Desenvolver a cadeia do açaí é um desejo da comunidade que solicitou o apoio do IFT. “Nós tradicionalmente trabalhamos com a madeira. Recentemente até conseguimos a Autorização de Exploração do ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade] e vamos iniciar o manejo madeireiro. Mas diante de todo esse processo percebemos que é necessário que outros produtos sejam trabalhados e acredito que o açaí é o principal deles”, destacou Evandro de Almeida Pinheiro, presidente da associação de moradores da comunidade.
A atividade na comunidade ocorreu em dois dias e dividiu-se entre entrevistas individuais e compartilhamento de informações mediada pelos consultores que atuaram como facilitadores. Quem explica a metodologia aplicada é o administrador Luiz Fernando Iozzi: “Viemos fazer um trabalho participativo, horizontal, para que nos contassem qual a visão deles sobre a possibilidade de fazer o manejo e a posterior comercialização do açaí, foi um primeiro passo para entender em que pé está, quais desafios, quais são as forças da comunidade, para saber se o açaí pode ser um bom negócio ou não”.
Ouça entrevista completa!
O trabalho dos consultores é de facilitar a sistematização do conhecimento da própria comunidade, é um processo de espelhamento, conforme destaca o próprio Fernando. “É neste momento que eles podem refletir, dialogar e apresentar para gente o que eles sabem, aquilo que entendem sobre a cadeia do açaí. Trabalhamos sob duas perspectivas, a primeira é entender, pegar dados para servir de insumo para o estudo de viabilidade econômica que é o produto final dessa consultoria, e a segunda é o engajamento, do empoderamento da comunidade, deixando claro para eles os processos que existem dentro da atividade. Daí eles pensam qual a mobilização que precisam, se são de recursos, pessoas, ou seja, o que é preciso para esse sonho se tornar realidade”, explicou o administrador.
Viabilidade
Roberto Sartori, economista e sócio-proprietário da Alvo Verde conta que a ideia de desenvolver um estudo de viabilidade econômica e plano de negócios sugerida inicialmente se tornou um projeto maior após diálogo com IFT. “Virou um projeto bastante participativo, para que os resultados que a gente queria obter fossem melhor empoderados pela comunidade. O projeto foi dividido em duas partes. A primeira foi o mapeamento, que realizamos agora, e a segunda que será a entrega desse plano de negócios. Essas duas atividades serão realizadas nas próprias comunidades. Encerramos a primeira parte, cujo objetivo era entender e mapear a forma como a comunidade vê a cadeia do açaí e como ela quer trabalhar nessa cadeia”, contou.
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O economista avalia positivamente a atividade e garante que possui subsídios para entregar um excelente produto para os moradores de Itapéua. “Superamos nossas expectativas, conseguimos visitar áreas de manejo, visitar outras comunidades, conversar com a prefeitura e especialmente com os compradores de açaí na região. Isso dá uma base para trabalharmos a segunda fase e apresentar uma análise de mercado, mas também trazer ferramentas para que as pessoas possam utilizar para desenvolver a atividade”, finalizou.
Os anseios para realização da atividade foram apresentados para o IFT pela comunidade. A instituição aceitou o desafio e inseriu no escopo das atividades que já realiza na Resex o fomento à cadeia do açaí. A consultoria deve retornar à comunidade ainda no segundo semestre deste ano e finalizar o trabalho. Apesar de ainda não ser comercializado pela comunidade Itapéua, o açaí representa para eles uma futura fonte complementar de renda e alimentação.
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