03 nov IFT entrega Estudo de Viabilidade Econômica da cadeia do Açaí para comunidade Itapéua
Localizada às margens do Rio Jaurucu, a comunidade Itapéua integra o cenário exuberante da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre. Com cerca de 19 famílias habitando a região, a comunidade luta desde 2004, quando foi delimitada a área da Unidade de Conservação, para efetivar atividades de manejo florestal madeireiro e não madeireiro. Para isso conta com o apoio de instituições parceiras, como o Instituto Floresta Tropical (IFT).
Com o objetivo de fortalecer as atividades produtivas e possibilitar o uso múltiplo dos recursos naturais existentes no território foram construídos coletivamente o Estudo de Viabilidade Econômica e o Plano de Negócios da Cadeia do Açaí. O IFT implementou essa atividade por meio de consultoria contratada que realizou as atividades em duas etapas ocorridas em campo. Na primeira, em julho de 2016, foi realizado o mapeamento da percepção dos membros da comunidade sobre os processos vinculados a uma possível atividade com açaí, o entendimento da cadeia de valor.
“Na ocasião identificamos de forma coletiva as expectativas, o conhecimento a respeito dos processos de extração e processamento do fruto, os recursos disponíveis e necessários, as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, bem como as perspectivas individuais que os membros da comunidade julgam relevantes sobre sua própria participação”, explicou Roberto Sartori, economista e consultor do IFT. Com os dados em mãos, a consultoria sistematizou as informações e retornou para comunidade com um modelo de plano de negócios.
A segunda etapa, ocorreu nos dias 25, 26 e 27 de outubro de 2016, e reuniu 28 pessoas na sede da comunidade Itapéua na Resex Verde para Sempre e outras 24 pessoas em Porto de Moz, no último dia da atividade. “Com a parceria do CDS [Comitê de Desenvolvimento Sustentável de Porto de Moz] pudemos apresentar os resultados também para outras comunidades da Resex que tem interesse e que são manejadoras de açaí. Para isso estabelecemos metodologias participativas diferentes, mas que comunicam os mesmos processos”, defendeu Luis Fernando Iozzi, administrador e consultor do IFT.
Conhecimento coletivo
A construção participativa deu o tom da elaboração dos produtos finais da consultoria (EVE e Plano de Negócios). “Nossa participação aqui é para organizar, sistematizar, os conhecimentos que certamente vocês já possuem, mas que precisam ser organizados seguindo alguns critérios. É um aprendizado mútuo, todos nós somos professores”, explicou Sartori durante a atividade. Diálogo e participação, aliás, não faltaram durante os dois dias de oficina realizados na escola da Itapéua. “Trabalhar com a floresta de forma legal é tudo que queremos. Não vê o que aconteceu com a mdeira? Nós lutamos e conseguimos, já vamos explorar. Dormimos num pesadelo e acordamos num sonho”, comentou Ziza Félix de Aragão, produtora agroextrativista. Além das famílias que compõem a comunidade, outros 3 manejadores de açaí da comunidade Ynumbí, distante cerca de uma hora e meia, estiveram presentes.
De acordo com Robson da Silva Sales, 27 anos, manejador de Açái do Ynumbi, os moradores da comunidade ainda estão começando a discutir sobre o manejo do açaí para comercialização, até então o fruto só era retirado para consumo próprio. “Os técnicos contratados pelo CDS vieram até a nossa comunidade e deram treinamentos. Somos 10 famílias que mexem com açaí, cada uma dessas tem uma área grande com açaí nativo, então vimos nessa oportunidade uma forma de obter recursos. Apesar da gente morar dentro da Resex, temos que utilizar esses recursos para gente. O açaí é o futuro. Vai trazer benefícios. Nós vamos pelo caminho que estão ensinando pra nós [sic]”, defendeu.
Durante a atividade foi apresentado o fluxo de caixa para a atividade do Açaí, que inclui reflexões sobre custos e receitas envolvidos nas etapas de manejo, colheita, transporte e comercialização nos quatro estágios do plano de negócios: subsistência, pequenas vendas, descobrindo o mercado e ampliando o mercado. Sobre a metodologia, Sartori reiterou: “De maneira bastante ilustrada e visual recuperamos os processos do Açaí discutidos em grupo e apresentamos os resultados da análise econômica realizada. Mesmo que de forma devolutiva, é esperado que haja validação das premissas pelos comunitários. Neste ponto conceitos de comercialização e formação de preços como mercado e preço mínimo devem ser discutidos”.
Organização de registros e estruturação de orçamento para a atividade do açaí também estiveram na pauta do dia. Para Sartori, é fundamental que os manejadores compreendam esses instrumentos para se apropriarem do próprio negócio e atuarem como empreendedores de fato. “Enfatizamos como valorizar e adotar a geração de registros. Esse processo de empoderamento é potencial, por isso usamos meios diversos para o entendimento e explorar caminhos que pareçam mais eficazes. De maneira objetiva, esperamos que os comunitários passem a fazer registros simples de seus gastos e atividades realizadas, assim como prever esses gastos ao longo da atividade”, aponta Roberto Sartori.
Fé
De forma lúdica, os moradores de Itapéua e Ynumbi fortaleceram conceitos de coletividade, união e equidade de gênero. Durante uma das dinâmicas aplicadas pela dupla de consultores, uma em especial os levou às lágrimas. A atividade desafiou o grupo a encontrar uma forma de trabalharem juntos e chegarem à um objetivo comum. A dificuldade de realizarem movimentos juntos e em sincronia se fez latente. Após inúmeras tentativas e erros, aos poucos as lideranças começaram a aparecer, até que as mulheres passaram a liderar o conjunto – antes estavam atrás, sem destaque – no momento ápice da dinâmica puxaram um cântico gospel, neste momento, em coro, o grupo conseguiu chegar ao alvo. “Vai dar tudo certo, em nome de Jesus. Se a gente colocar a nossa fé em ação, vai dar tudo certo”, ecoava, emocionando quem avistava de fora.
Fotos e texto: Elias Santos – SRTE/Pa – 2258
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