28 jun Cooperativas de populações tradicionais da Amazônia trocam experiências em Santarém
Quer aprender alguma coisa? Observe quem já faz com excelência! A máxima vale também para atividades florestais. Pelo menos é nisso que acreditam representantes de cooperativas agroextrativistas de populações tradicionais residentes em Unidades de Conservação da Amazônia que participaram do Intercâmbio Florestal, realizado em Santarém, nos dias 21 e 22 de junho. O encontro foi organizado pelo Instituto Floresta Tropical (IFT) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e cont ou com o apoio do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e Fundo Vale.
Com o objetivo de fortalecer a gestão da Cooperativa Agroextrativista do Rio Ituxi (Coopagri), formada por moradores da Reserva Extrativista (Resex) Ituxi, localizada no município de Lábrea, região sul do estado do Amazonas, o intercâmbio proporcionou a troca de experiência sobre comercialização de produtos florestais que já é realizada pela Cooperativa Mista da Flona do Tapajós, os anfitriões do encontro. Além da Coopagri, a Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora do Perpetuo Socorro do Rio Arimum (Coomnspra), formada por moradores da Resex Verde Para Sempre, também participaram do intercâmbio.
Durante dois dias os representantes das cooperativas participaram de atividades com a diretoria da Coomflona e puderem vislumbrar in loco todas as etapas realizadas por uma cooperativa na comercialização da madeira explorada por meio de manejo florestal sustentável. “Estamos dando os primeiros passos e observar o que já é feito, é fundamental para não errar, ou pelo menos diminuir as dificuldades na hora de operar nossa cooperativa. Não vejo outra forma melhor de aprender do que essa, de vir aqui e ouvir os companheiros”, comentou Francisco Monteiro Duarte, dirigente da Coopagri.
As atividades reservadas para o primeiro dia do intercâmbio ocorreram no escritório sede da Coomflona, na cidade de Santarém. A palestra de abertura, preferida pelo vice-presidente da entidade, Jeremias Batista, apresentou a estrutura organizacional da Coomflona, os sistemas de gerenciamentos utilizados para emissão de documentos e o volume madeireiro e o quantitativo financeiro movimentado pelos comunitários. “Levamos anos para que chegássemos em um nível organizacional como este. Hoje contamos com um contador, que sou eu, técnicos e até um engenheiro florestal concluindo o curso de graduação, todos da comunidade. Daí a importância de investir em capacitação”, explicou Jeremias acompanhado da advogada Ana Nery, que compõe o corpo de colaboradores e atua na formulação de contratos e toda a parte advocatícia da entidade.
O presidente da Coomnspra, Jones da Silva Santos, não voltou para casa com dúvidas, fez questão de participar e interpelar os anfitriões sempre que surgiam dúvidas. “Não sei de que forma teríamos essa oportunidade se não fosse graças aos parceiros. Já que estou aqui, tenho mais é que aprender. Eles estão nessa luta há muito mais tempo que a gente, conseguiram conquistar exatamente o que queremos. Além dos benefícios financeiros, estamos vendo que os [benefícios] sociais também chegam com o manejo”, disse.
No segundo dia do intercâmbio os participantes colocaram o capacete, as botas e foram para campo. “Entender como acontece no campo as etapas da comercialização é importante porque vai nos ajudar a organizar a nossa forma de trabalhar. Se com eles deu certo com a gente também pode dar”, disparou Laureni Barros, diretora da Coopagri.
As atividades dentro da Floresta Nacional do Tapajós chamaram atenção da representante do Fundo Vale no encontro. Gabriela Oliveira contou que idas à campo para observar o desenvolvimento dos projetos apoiados pelo Fundo proporcionam contato com as populações que compõem as atividades e tornam as análises dos processos mais humanas. “Não tem indicador melhor do que ouvir vocês. Do que perceber nos detalhes a forma como se dá o trabalho de vocês”, argumentou durante avaliação referindo-se aos comunitários.
Pedro Constantino, consultor do Serviço Florestal dos Estados Unidos, reiterou a necessidade de organização social das comunidades para que a cadeia, desde a extração da madeira até a comercialização, não seja comprometida. “É preciso levar em consideração as especificidades de cada empreendimento para que se tenha sucesso. A troca de experiências é fundamental para que se possa chegar aos modelos que funcionam nas realidades de cada localidade”, defendeu.
O intercâmbio foi conduzido por uma especialista em gestão de organizações do terceiro setor, Maria Antônia Nascimento, responsável pelas atividades de consolidação das associações e empreendimentos comunitários nas questões contábeis, financeiras e administrativas apoiadas pelo IFT.
Coomflona
A Cooperativa Mista da Flona do Tapajós (COOMFLONA) foi criada em 2005 e abrange uma área coletiva de 512 mil hectares, explorados por cerca de mil famílias. A criação da entidade foi motivada pelas lideranças locais, com o objetivo de minimizarem a exploração ilegal dos recursos florestais em suas comunidades. Após debates e seminários sobre o assunto, a população local optou pela criação da cooperativa. A Coomflona possui Plano de Manejo Florestal Sustentável aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Atualmente, tem tido sucesso na execução do Plano e na exploração de madeira legal.
Para desenvolver o Plano de Manejo, a Coomflona teve o apoio técnico de diversas instituições, como a Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto Natureza Amazônia (INAN), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além do IFT e outras instituições e projetos. No final de 2013, a Coomflona recebeu o documento de certificação da Cooperativa pelo selo FSC e inaugurou sua loja para comercializar produtos confeccionados a partir de galhos e resíduos de madeira manejada da Floresta Nacional do Tapajós. Com o selo FSC a cooperativa acessa mercados mais exigentes, preocupados com a origem do produto, tendo em vista que a certificação indica que a madeira extraída resulta de um manejo responsável socialmente, ambientalmente e economicamente.
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