24 nov Manejo Florestal Comunitário é alternativa sustentável à exploração madeireira em Lábrea (AM)
Com pouco mais de 37 mil habitantes, cidade de Lábrea, no Amazonas, está localizada na região sul do estado, e pertence à uma extensa área de conflitos do arco do desmatamento que inclui, ainda, áreas de Rondônia e Acre. Em série de reportagens veiculadas recentemente pela Rede Globo de Televisão, no programa Globo Rural, que você pode acompanhar AQUI e AQUI, a equipe jornalística acompanha o cenário preocupante do desmatamento que ocorre na região. Porém, é preciso levar em consideração iniciativas de desenvolvimento sustentável realizada por comunidades tradicionais agroextrativistas que atuam, na contramão deste cenário, com exploração madeireira de forma legal, como o Empreendimento Angelim, formado por agroextrativistas da Reserva Extrativista Ituxi, que integra o espaço territorial de Lábrea.
O acesso às principais comunidades que vivem nesta Unidade de Conservação é fluvial, em barcos ou voadeiras. Criada em 2008, a Resex possui área aproximada de 780 mil hectares cobertos de florestas de terra firme e várzea. No último censo demográfico realizado pelo ICMBio, em 2012, foram registrados 564 habitantes distribuídos em 123 famílias e 19 assentamentos humanos. As principais atividades produtivas desenvolvidas pelas comunidades de Ituxi são a coleta da castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), produção de farinha de mandioca e a extração do óleo de copaíba (Copaifera sp.). Além desses produtos, a extração da madeira é uma atividade econômica bastante importante para os moradores.
A Resex Ituxi é um dos territórios abrangidos pelo projeto desenvolvido pelo Instituto Floresta Tropical, que atua na Amazônia há mais de 20 anos com treinamento e capacitação para o manejo florestal. A relação entre as comunidades da região e o Instituto foi estabelecida em 2012, quando o IFT foi contratado pelo Banco Mundial, em um projeto conduzido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Serviço Florestal Brasileiro (SFB) para conduzir algumas capacitações preliminares (técnicas pré-exploratórias do manejo florestal) e para avaliar o potencial para o manejo florestal em quatro Unidades de Conservação federais da Amazônia. O relatório da avaliação revelou um alto potencial para o desenvolvimento do manejo florestal na Resex Ituxi.
Entre os produtos já explorados de forma sustentável pelos povos que habitam a Resex, estão a castanha-do-brasil, o óleo de copaíba, o pirarucu e mais recentemente a madeira, cujo manejo está em sua primeira Unidade de Produção Anual (UPA).
O Empreendimento Angelim é formado pelos próprios comunitários que fazem a gestão de todo o projeto de manejo florestal. “Hoje temos um grupo organizado, uma cooperativa em formação para comercializar os produtos que trabalhamos, uma associação fortalecida e estamos inclusive executamos recursos da Fundação Banco do Brasil, que nos auxiliou na compra de equipamentos para ajudar diversas atividades do manejo florestal sustentável com exploração de baixo impacto”, comemora Silvério Barros Maciel, presidente da Associação do Produtores Agroextrativista da Assembleia de Deus do Rio Ituxi (APADRIT).
A luta para chegar até a execução do manejo florestal comunitário foi árdua e o projeto apoiado pelo IFT, segundo Silvério, foi propulsor de muitas mudanças que ocorreram dentro da Resex. “Tenho certeza que sem o apoio de parceiros não teríamos chegado até aqui. Entendemos que há muita dificuldade e que nossos conhecimentos de gestão são poucos, por isso é necessário esse apoio. Com nosso grupo de manejadores organizado agora já estamos extraindo nossa madeira e logo colheremos os frutos desse trabalho”, comenta.
Como um dos principais apoiadores do empreendimento está a Fundação Banco do Brasil, que por meio do edital Ecoforte Extrativismo subsidiou a aquisição de insumos e equipamentos que proporcionaram o desenvolvimento da atividade. “Quando o edital saiu nós apostamos nossas fichas e escrevemos o projeto que foi aprovado. Hoje podemos usufruir dos equipamentos que só foram possíveis de serem comprados porque tínhamos o recurso da fundação. Não teríamos como ir para campo sem equipamentos de proteção, trator e motosserra e tudo isso nós temos agora”, destaca Silvério.
Os produtos da Resex Ituxi serão comercializados por meio da Cooperativa Agroextrativista do Ituxi (Coopagri). A assembleia de criação da Coopagri foi realizada no dia 12 de dezembro de 2015 na comunidade Vila Vitória e contou com a participação de mais de 50 moradores interessados em compor a cooperativa. A chapa eleita por aclamação tem como presidente a jovem professora Gilmara Pereira do Nascimento, 22 anos. Aliás, fôlego jovial é o que não vai faltar ao grupo que é composto em sua maioria por jovens com idade entre 20 e 30 anos.
Para a presidente, este é um momento de olhar para dentro da Reserva e unir esforços para levar o desenvolvimento com foco na sustentabilidade para as terras de Ituxi. “Eu precisei sair daqui para estudar na cidade, quero que todos tenham a oportunidade de crescer aqui dentro mesmo, com escola, posto de saúde, transporte. Temos a força da juventude em nossas mãos e a garra para lutar pelos nossos direitos, por isso vamos atrás de parceria, para que nos ensinem o que a gente não sabe”, disse a jovem.
A Coopagri nasceu a partir das necessidades dos moradores de terem uma entidade jurídica capaz de comercializar os produtos da floresta. “Nós já estamos na floresta, manejando, e isso é o mais importante. Foram anos de luta para concretizar esse sonho. Agora vejo que tudo valeu a pena”, destaca o manejador Francisco Monteiro Duarte, conhecido como Chicão.
Joedson Quintino, gestor da Resex Ituxi pelo ICMBio, recorda que os avanços se deram em várias frentes e que cada instituição envolvida foi fundamental para alcançar as conquistas. “Com o GT da Madeira avançamos no diálogo e no fortalecimento da governança local. Realizamos eventos que puderam aproximar governo, organizações não governamentais comunidades e, assim, alinhar os objetivos.
A regularização da atividade florestal pelas populações tradicionais contribui com um ambiente de regularização dos outros atores da cadeia de valor da madeira, fomentando e fortalecendo o licenciamento das serrarias e movelarias locais, e desta maneira agindo ativamente na mudança do cenário de ilegalidade da atividade florestal e na diminuição do desmatamento ilegal na região.
Alternativa
O manejo florestal comunitário surge como alternativa de combate à degradação florestal e desmatamento em áreas de uso coletivo. O manejo florestal é uma atividade de geração de renda para as populações tradicionais, ao mesmo tempo em que alia o uso eficiente e racional das florestas ao desenvolvimento sustentável. A efetivação do manejo florestal contribui para a diminuição do desmatamento ilegal, uma vez que proporciona a execução da exploração madeireira pelos comunitários dentro de diretrizes legais estabelecidas.
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