Mapeamento participativo pretende identificar viabilidade econômica da cadeia do açaí na Resex Verde Para Sempre

Mapeamento participativo pretende identificar viabilidade econômica da cadeia do açaí na Resex Verde Para Sempre

“Tens o dom de seres muito, onde muitos não têm nada”. O trecho é da letra da canção Sabor Açaí, do artista paraense Nilson Chaves, e revela em verso e prosa a relação do povo amazônico com a fruta típica da região norte do país. Consumido de leste à oeste no Pará – em muitos casos o açaí é um dos principais complementos da alimentação – a polpa encontra mercado e potencial de comercialização nas mais diferentes localidades.

Diante desse cenário e na tentativa de contribuir com a diversificação das atividades produtivas de comunidades da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre, o Instituto Floresta Tropical (IFT) desenvolve, em parceria com a comunidade Itapéua e Alvo Verde Soluções e Projetos, o mapeamento participativo da cadeia do açaí na região. Com o apoio do Fundo Vale, a primeira etapa desta atividade foi realizada entre 16 e 19 de julho e contou com a consultoria de um economista e um administrador. Com as informações adquiridas será elaborado um estudo de viabilidade econômica e um plano de negócios para a comunidade Itapéua.

A Resex Verde para Sempre está localizada no município de Porto de Moz e possui áreas de açaizais nativos com potencial para serem manejados e gerar alimentação e renda para a população que habita o território. “Temos interesse em trabalhar com o açaí e estamos sendo capacitados para isso. Até então a gente só usava para consumo próprio e nem era sempre. A floresta pode nos dar muita coisa, está tudo aí é só termos o conhecimento para usar”, disse Gideão Félix Aragão, morador da comunidade Itapéua.

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Desenvolver a cadeia do açaí é um desejo da comunidade que solicitou o apoio do IFT. “Nós tradicionalmente trabalhamos com a madeira. Recentemente até conseguimos a Autorização de Exploração do ICMBio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade] e vamos iniciar o manejo madeireiro. Mas diante de todo esse processo percebemos que é necessário que outros produtos sejam trabalhados e acredito que o açaí é o principal deles”, destacou Evandro de Almeida Pinheiro, presidente da associação de moradores da comunidade.

A atividade na comunidade ocorreu em dois dias e dividiu-se entre entrevistas individuais e compartilhamento de informações mediada pelos consultores que atuaram como facilitadores. Quem explica a metodologia aplicada é o administrador Luiz Fernando Iozzi: “Viemos fazer um trabalho participativo, horizontal, para que nos contassem qual a visão deles sobre a possibilidade de fazer o manejo e a posterior comercialização do açaí, foi um primeiro passo para entender em que pé está, quais desafios, quais são as forças da comunidade, para saber se o açaí pode ser um bom negócio ou não”.

Ouça entrevista completa!

O trabalho dos consultores é de facilitar a sistematização do conhecimento da própria comunidade, é um processo de espelhamento, conforme destaca o próprio Fernando. “É neste momento que eles podem refletir, dialogar e apresentar para gente o que eles sabem, aquilo que entendem sobre a cadeia do açaí. Trabalhamos sob duas perspectivas, a primeira é entender, pegar dados para servir de insumo para o estudo de viabilidade econômica que é o produto final dessa consultoria, e a segunda é o engajamento, do empoderamento da comunidade, deixando claro para eles os processos que existem dentro da atividade. Daí eles pensam qual a mobilização que precisam, se são de recursos, pessoas, ou seja, o que é preciso para esse sonho se tornar realidade”, explicou o administrador.

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Viabilidade

Roberto Sartori, economista e sócio-proprietário da Alvo Verde conta que a ideia de desenvolver um estudo de viabilidade econômica e plano de negócios sugerida inicialmente se tornou um projeto maior após diálogo com IFT. “Virou um projeto bastante participativo, para que os resultados que a gente queria obter fossem melhor empoderados pela comunidade. O projeto foi dividido em duas partes. A primeira foi o mapeamento, que realizamos agora, e a segunda que será a entrega desse plano de negócios. Essas duas atividades serão realizadas nas próprias comunidades. Encerramos a primeira parte, cujo objetivo era entender e mapear a forma como a comunidade vê a cadeia do açaí e como ela quer trabalhar nessa cadeia”, contou.

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O economista avalia positivamente a atividade e garante que possui subsídios para entregar um excelente produto para os moradores de Itapéua. “Superamos nossas expectativas, conseguimos visitar áreas de manejo, visitar outras comunidades, conversar com a prefeitura e especialmente com os compradores de açaí na região. Isso dá uma base para trabalharmos a segunda fase e apresentar uma análise de mercado, mas também trazer ferramentas para que as pessoas possam utilizar para desenvolver a atividade”, finalizou.

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Os anseios para realização da atividade foram apresentados para o IFT pela comunidade. A instituição aceitou o desafio e inseriu no escopo das atividades que já realiza na Resex o fomento à cadeia do açaí. A consultoria deve retornar à comunidade ainda no segundo semestre deste ano e finalizar o trabalho. Apesar de ainda não ser comercializado pela comunidade Itapéua, o açaí representa para eles uma futura fonte complementar de renda e alimentação.

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